- O SUAS em Santa Catarina: o desenho da proteção
social básica em perspectiva
Hoje
a política de Assistência Social se insere no marco dos direitos sociais
assegurados por lei. Considerando o rol de objeções para que esta especial
política pública pudesse se efetivar, mas também atentando para as
especificidades de cada região brasileira, a pesquisa que aqui se apresenta
terá como desafio percorrer e analisar o processo de implantação da política
socioassistencial no estado de Santa Catarina.
Ademais,
outro fator determinante que propulsou a iniciativa desta pesquisa foi a
carência de dados e análises sobre o Sistema Único de Assistência Social, bem
como o Serviço PAIF no contexto de Santa Catarina.
Assim,
o presente projeto de pesquisa se insere na temática de Assistência Social,
especificamente, na linha de investigação “O Sistema Único de Assistência
Social (SUAS) e sua implantação no contexto federativo do país”, e tem por
finalidade analisar o processo de implantação da proteção social básica no
âmbito do suas, no Estado de Santa Catarina, especialmente no que se refere ao
desenvolvimento do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF,
prioritariamente organizado nos CRAS, de maneira a atentar sobre as novas
modalidades de organização e atendimento da política pública de assistência
social.
Pretende,
adicionalmente, contribuir na produção de novos e qualitativos indicadores que
possam subsidiar a avaliação quanto à implementação dos programas e projetos
sociais da proteção social básica no território brasileiro, conduzidos e
co-financiados pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Qualificação principal do problema a ser abordado
A
aprovação da PNAS/2004, ao mesmo tempo em que registrou e sancionou os novos
termos do sistema nacional, simultaneamente inaugurou um complexo e delicado
processo de pactuação política, de elaboração de medidas legislativas em todos
os níveis de gestão, de reorganização dos fluxos de financiamento e de
atendimento dos serviços, bem como da organização da estrutura
político-institucional e seus recursos humanos.
Este
difícil processo vale lembrar, atendeu a um grande número de solicitações políticas,
formuladas nos fóruns de participação, controle social e de pactuação
intergovernamental da política de assistência social, sobretudo, pelos gestores
públicos governamentais estaduais e municipais, mas também pelas entidades
parceiras prestadoras de serviços conveniados, os trabalhadores e sujeitos de
direitos organizados. As reivindicações pleiteavam a necessidade de
reorganização da política pública, desde a demarcação de um correto fluxo de
competências entre as esferas federal, estadual e municipal, passando pela
imprescindível rearticulação da capacidade de gestão da política de assistência
social, alcançando a formulação legislativa quanto às fontes vinculadas de
financiamento, com seus percentuais federal, estadual e municipal. Em dez anos
de implantação da Lei 8742/94, as impotências e lacunas eram significativamente
maiores do que as necessidades e demandas da população.
Porém,
este novo ordenamento da gestão da Política de Assistência Social não é capaz
de acionar automaticamente uma equivalente inédita institucionalidade, cuja
necessidade de reformulação e/ou reconstrução da cultura institucional, de modo
especial quanto ao processo de gestão não é simples; ao contrário. As imensas
dificuldades deste processo se consolidar em
Santa Catarina - sobretudo quanto à participação qualificada e
pujante da esfera estadual - é um paradoxal exemplo desta assincronia de ritmos
decisórios e de realizações já pactuadas.
Situada,
agora prioritariamente no espaço estatal, essa política pública tenciona a atividade
do Estado em cada uma das esferas governamentais, de modo que a necessária
assimilação e incorporação de seus conceitos fundamentais ainda requerem
maiores formulações, espacialmente quanto: (1) à articulação do sistema
descentralizado e participativo; (2) à composição do comando único; (3) à
intersetorialidade com as demais políticas públicas; (4) ao fortalecimento da
rede socioassistencial; (5) à territorialização das ações (6) à organização e
preparação dos recursos humanos; (7) à estruturação do monitoramento e
avaliação contínuas; (8) aos termos do financiamento e co-financiamento; (9) ao
fortalecimento do controle social democrático; (10) à matricialização da
participação popular e do protagonismo de seus usuários.
São
grandes e importantes os esforços empreendidos, nesse sentido, em âmbito
nacional, estadual e municipal, tendo em vista a conformação desse novo
redirecionamento. Porém, cabe inquirir objetivamente: em que bases está se
configurando a construção do Sistema Único da Assistência Social em
Santa Catarina ?
E
ainda: de que forma o desenho do Serviço PAIF em
Santa Catarina atende as diretrizes da proteção básica no
âmbito da implantação do SUAS no Estado, tendo em vista sua centralidade na
nova institucionalidade dentre os serviços de proteção socioassistencial básica
proposto na PNAS?
Em
nossa hipótese, o suas pode e deve se inscrever no esforço de viabilização do
novo projeto de desenvolvimento nacional, enfatizando-se que não se pode
pleitear a universalização dos direitos à Seguridade Social e da proteção
social pública sem a composição correta e suficiente da política pública de
assistência social, em nível nacional.
Sendo
assim, espera-se reafirmar claramente a contribuição da assistência social,
implementada como política pública afiançadora de direitos, através de uma
estrutura político-administrativa que ressalte a fundamental relevância do
processo de descentralização, quanto ao redesenho do papel e da escala espacial de organização dos serviços do Estado
Brasileiro, que assegure a transferência, em blocos de competências, das ações
para os territórios mais próximos da população e de suas necessidades, e a distribuição dos
recursos financeiros e operacionais de forma mais equitativa, articulando corretamente a participação dos municípios, estados e
da União seja no cofinanciamento, seja na implementação dos benefícios e na
execução direta e/ou compartilhada dos serviços socioassistenciais, nos moldes
e nas condições que o pacto intersetorial agora estabelece.
Nesse
sentido, este projeto se articula com outra iniciativa e proposição de pesquisa
de nossa instituição, que de maneira especial, se deterá na análise do programa
Bolsa-Família, numa comum seleção de amostra dos municípios, tendo em vista a
otimização de recursos e, sobretudo, a possibilidade de cotejamento de dados
complementares e mais amplos de cada projeto realizado.
As possibilidades de ampliação e de concretização do estatuto político da assistência social são, de certo modo, contraditórias à cena política tradicional, que reconhece mais facilmente os direitos admitidos pelo mercado capitalista, ou que estejam diretamente imbricados na dinâmica de reprodução do capital. Esse não é o caso da assistência social, mas ambiguamente é uma das suas maiores potencialidades, como se perceberá com a reflexão sobre as necessidades sociais básicas a serem cobertas pela política de assistência social.
- PRODUÇÃO TEÓRICA
Dissertações
Concluídas
ROCHA, Mirella F. Participação
popular nas políticas socioassistenciais na América Latina: Estudo
comparativo entre Brasil e Venezuela; / Orientadora,
Beatriz Augusto de Paiva. [dissertação]: (Mestrado
em Programa de Pós-Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. - Florianópolis, 2009.
CARRARO, Dilceane. A política de
assistência social no Brasil e no Chile: o binômio da focalização x
universalização / Orientadora, Beatriz Augusto de Paiva. (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Serviço Social) - Universidade
Federal de Santa Catarina, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior. - Florianópolis, 2010.
BERTOLLO, Kathiuça. A Contraditória
relação entre trabalho e o direito à assistência social: um estudo desde a
perspectiva da depedência. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação
em Serviço Social) - Universidade Federal de Santa Catarina, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientadora: Beatriz Augusto de
Paiva. Florianópolis, 2012.
Dissertação em andamento:
BEVILACQUA, Tatiane. Fluxo do direito socioassistencial - SUAS - SC.
Início: 2011. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social) - Universidade Federal de Santa Catarina. (Orientador).
Artigos publicados em periódicos, anais de eventos, capítulos de livros e produções técnicas
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Trabalhadores do SUAS: qual agenda construir?. In: PIZZATO, L. & PAULA, R..
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Conferência Nacional de Assistência Social: Consolidar o SUAS e valorizar
seus trabalhadores. 1a. ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, 2011, v. 01, p. 13-22
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Catarina: o processo de implantação social básica em perspectiva. In: 6º Encontro Nacional de Políticas Sociais.
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Latina: ensaio de interpretação a partir da Teoria Marxista da Dependência /
Social Policy in Latin America: essay of interpretation form the Marxist Theory
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Participação popular e assistência social: contraditória dimensão de um
especial direito. In: Rev. Katálysis. Florianópolis, v. 13, n. 2, p. 250-259
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Teoria Social: A Latinoamericanização em Debate. In: Congresso Internacional da
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